sábado, 6 de março de 2010

Melodie

Quem eu sou? Onde nasci? Como vim aqui parar? Vamos descobrir agora!
No dia 26 de Janeiro, de uma pedra eu nasci. Que estranho! Era uma pedra sem forma, tamanho, cor, idade e sem nome, mas que a pouco e pouco foi ganhando essas características que começavam a caracterizar-me (Anexo 1 – Ficha nº 2). A pedra apenas existia quando entrava num mundo novo, imaginário, sim, mas muito verdadeiro para mim.
No início tudo parecia desconhecido e estranho, não era perceptível o que estava a acontecer e o que eu estava ali a realizar. Será que todos os outros percebem menos eu? Tudo aconteceu numa noite, escura e fria, que me despertou a atenção o som do vento, aquele som estranho, suave e que metia a todos curiosos por saber de onde aquele som provinha; Era aquele som que me aprisionava, me encantava e que me embalou durante toda a noite. E foi nessa noite que tive a visão de quem era Eu.
Na manhã seguinte, ao som de uma música calma, na sala de aula, onde sentimos o nosso corpo, cada traço que ele é constituído, cada músculo que contraíamos e relaxámos e após as observações propostas eu ganhei VIDA. Sim, esta Vida, acto de respirar e de poder entrar neste mundo, de sentir que existo. Sou de estatura alta, magra. Tenho cabelos pretos com muitos jeitos, umas pontas para um lado, outras para outro. Os meus olhos são castanhos, mas não é um castanho normal, é um castanho profundo, transparente que reflecte a minha alma. Esses olhos que vocês “desconhecidos”, conhecem bem. Ando ao sabor do vento, esse que dita o meu destino e guia o meu caminho.
Eu sou artista. Mais propriamente da música. Eu canto, componho música. A música faz e incorpora a minha alma e mostra quem eu sou e quem o mundo aparenta ser. A todas as pessoas eu transmito, através da música, as suas vivências, o seu quotidiano. Mas após tudo isto, ainda nem me apresentei. Peço desculpa! Sou a Melodie e tenho 21 anos.
Podem questionar-se que, se falo no presente, então como foi o meu passado? Ohh! Esse passado. Se tenho pais? Em que cidade nasci? Porque a música faz parte da minha vida?
Essas respostas surgiram no dia em que realizamos o exercício de incorporação de um animal que seríamos, se pudéssemos. Eu escolhi a pomba. Nessa aula para além de eu me ver como a Melodie descobri algumas características do meu passado. Nasci nos Estados Unidos da América (EUA), numa cidade chamada Crowley Corners, no Tennessee. É uma cidade pequena, com uma comunidade muito unida mas que o que a caracteriza é a paixão pela música. A música rodeia e faz parte da vida das pessoas que vivem na comunidade. Todos os dias, a música entoa no espírito dela. Os meus pais são músicos. O meu pai compõe as músicas e a minha mãe canta. Sendo assim, desde pequena, fui habituada com a música a rodear-me e a fazer parte do meu desenvolvimento como pessoa. Mesmo antes de aprender a falar, os meus pais dizem que eu entoava e tentava imitar as músicas que ouvia de forma melodiosa. Assim me baptizaram de Melodie. Frequentei aulas de música, aprendi a tocar guitarra, instrumento que me acompanha para todo o lado, vá para onde for. E assim, á medida que fui crescendo a música incorporou-se em mim, como se fosse parte do meu corpo e da minha alma e que ninguém poderia “roubar” porque era significado de roubarem parte de mim. Comecei a compor música nos prados verdes, debaixo de um género de casa abandonada, sem paredes, apenas a estrutura em si com vista para o horizonte. Nesse lugar eu sinto-me livre, com liberdade de escrever o que me apetecia, o que via e observava, tanto na comunidade como naquele lugar. Tudo é motivo de líricas, de música. Esta parte da minha história comparei com a pomba, na medida, que é um animal que é livre, a liberdade que ele possui ao voar.
Os meus amigos não entendiam o porquê desta paixão intensa pela música mas nem eu sou capaz de explicar por qualquer palavra o que significa a música. Ela é parte de mim e que me completa como ser existente no mundo. Ela é algo que se incorpora em mim. Por vezes, eles chegavam a comentar que eu conseguia detectar sons que mais ninguém conseguia detectar (a pomba tem essa mesma capacidade de detectar sons a distâncias que nenhum outro animal consegue).
No dia em que completei 18 anos senti que era altura do mundo lá fora me conhecer e de eu própria me dar a conhecer. Senti que o vento me empurrava para a descoberta de novas aventuras. O mundo precisava de mim, da minha música. E aí iniciou-se e que até agora perdura, a minha viagem pelo mundo.
Mas perguntam vocês? Nunca sentes necessidade de estar sozinha, de estares apenas tu, sem estares no meio do mundo? Sim, por vezes necessito de estar sozinha, de me isolar no meu refúgio. Esta face (contra-tempo) é a que não mostro no quotidiano. É algo que apenas acontece quando me sinto perdida ou necessito do meu espaço. Esse refúgio é um lugar que tento encontrar em todos os lugares do mundo por quais eu visito. Esses lugares são lugares de calma pura, apenas acompanhada com o som da minha guitarra, e o som da Natureza que está envolvente no ambiente. É a estes lugares que eu conto os meus mais profundos segredos, são os meus conselheiros. Estes são os lugares onde nada nem ninguém me poderá encontrar.
Quando tudo parecia definido, eis que surge o meu ponto de equilíbrio: Andar direita, com firmeza e segura de mim mesma: Quem sou, de onde venho. Este andar é como se alguém me tentasse puxar com uma linha pela cintura de maneira que eu nunca poderia mudar o meu movimento. É o meu equilíbrio interior.
Nesse mesmo dia descobri qual a música que me caracterizava e eu perguntei a mim mesma:
- Melodie, que música te define, que música transmite para o exterior o que és por dentro ?
Foi, então, que descobri que no meu dia-a-dia, aquela música que me caracteriza é: “Música, Eu nasci para a música” (Anexo 2). Esta música mostra o quanto a música é importante para mim e que sem ela fico perdida. E que nada nem ninguém me poderá impedir de cantar. Mostra a pessoa decidida e convicta pelos objectivos traçados na vida. Uma pessoa determinada. Por outro lado, a música “Vou chamar a música (Anexo 2) reflecte a minha outra face. A face mais solitária, os dias em que pergunto se cantar valerá a pena, se alguém me ouve, se alguém me entende. Assim, “chamo a música” que me diz que, mesmo que seja só por mim, valerá sempre a pena cantar, pois é deste modo que eu tenho o que realmente é importante: A VIDA. É este sentimento que é do maior valor inigualável. Sim! O ter vida! Algo que me permite existir, respirar, movimentar, chorar, sorrir e acima de tudo SER EU – Eu, Melodie.
[Melodie é uma criação da Ana Rita Monteiro]

Sem comentários:

Enviar um comentário