domingo, 12 de fevereiro de 2012

Maria do Carmo, a Juíza


“23 de Abril de 1985,
 Maria do Carmo de Mello, no mundo do trabalho, ou Carminho para os amigos, é assim que sou conhecida. Tenho 30 anos, e nasci a 25 de Agosto de 1955, na freguesia do Campo Grande, Lisboa, a minha amada Capital. Sou filha de José Miguel de Mello e de Maria Luíza de Mello. O meu pai sempre foi conhecido como um grande autoritário, e um grande bancário, já a minha mãe sempre foi a sua sombra e seu grande pilar, mas nunca foi feliz, pois nunca conseguiu ser aquilo que queria, pois a sua paixão sempre foi escrever, mas por estar casada com o meu pai esse futuro sempre lhe fora vedado, e agora com 60 anos, e ao aproximar-se da morte, escreve todos os dias no seu diário, as palavras que já não menciona.
Eu como não quero um futuro assim para mim, aqui me encontro solteira com 30 anos, quando a minha mãe já era mãe pela segunda vez, e com um futuro na magistratura brilhante à minha frente, contudo não consigo ser completamente feliz.
Os meus pais sempre que quiseram dar a melhor educação, pelo que desde cedo frequentei o Colégio Moderno, e frequentei aulas de piano na casa de uma Madamme Russa, a Madame Savka. Foi aqui que eu comecei a aborrecer os meus pais, pois perto dos 14 anos, apaixonei-me pelo filho da Madame, o Peter! Ai, Peter, como tenho saudades tuas...
Este foi, é e será Sempre o Grande Amor da Minha Vida, nunca o esquecerei, e nunca me casarei com ninguém sem ser com ele. Mas voltando um pouco atrás e aos meus 14 anos, o meu pai pensando que era uma paixoneta de criança apesar de me proibir de namorar com ele, nunca me proibio de ir às lições de piano, o que fez com que eu continuasse a ver o Peter, e a apaixonar-me cada vez mais por si. Com 16 anos, o meu pai leva-me ao meu baile de debutante onde iria ter como par Filipe Espirito-Santo, o filho de um colega de meu pai, e com que ele me queria casar, contudo após o baile quando o Filipe se ia declarar, eu fugi para ir ter com o Peter, situação esta que o meu pai declarou como ofensiva e pouca digna de uma menina da minha classe. Após esta situação o meu pai proibiu-me de frequentar as aulas de piano, e nunca mais me deixou ver o Peter, contudo eu ainda conseguia falar com ele através de cartas que me eram entregues pela criada, contudo após o meu pai descobrir este esquema, despediu a empregada e nunca mais soube do Peter. Ai, ai...
       Dois anos depois, e ainda sem noticias do Peter, chegou a altura de decidir o meu futuro, e foi aqui que decidi dedicar-me ao trabalho e aos estudos a tempo inteiro, iria ser Juiza, para que pudesse ser justa e julgar os que cometiam crimes e desonestidades, tal como o meu pai me fizera..
       E assim ingressei na faculdade de Coimbra onde me graduei com média final de 17,5 valores, e voltei a Lisboa para trabalhar ainda com 24 anos.
       Seis anos depois aqui me encontro, a morar sozinha, num apartamento novo em Lisboa, finalmente independente dos meus pais, e procurando ansiosamente um Peter que não aparece, mas como eu sempre digo: Será Tarde? Não! Nunca é tarde!
Acabo por aqui a primeira página do meu diário, pois apesar de estar sozinha, sinto vontade de falar.
                                                      Volta Peter,
                                               Maria do Carmo de Mello.”

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