Alicia da Silva Íris, nasceu a 25 de Maio de 1986 na cidade de Ílhavo. Sempre foi uma miúda determinada, convicta e apaixonada pela vida, adorava o mar, o sol, acreditava na bondade infinita do ser humano, não acreditava no amor à primeira vista, acreditava sim em olhar com mais atenção, sempre acreditou no amor com A maiúsculo mas para a sorte dos homens contentava-se com pouco. Oriunda de uma família bem posicionada socialmente sempre lutou pelos seus objectivos e sempre tentou adquirir tudo o que queria à custa dos seus próprios esforços.
A sua paixão pela imagem e pela fotografia foram uma constante, desde a infância. Recebeu a sua primeira máquina fotográfica com 15 anos e desde aí nunca mais parou de fotografar… Era uma paixão tão grande, que, para Íris, fotografar era quase com criar, cada fotografia era uma criação sua, como que uma pintura e cada uma dessas criações tinha que ser simplesmente perfeita, como a perfeição não era alcançada pela revelação em laboratório, Íris construiu o seu próprio laboratório, “Só tendo o meu próprio laboratório posso passar para a película o que senti quando captei a imagem, a cor certa, o brilho certo, a luz certa…”,e cada foto transmitia uma luz, um sentimento que comovia só de olhar. Fez várias exposições e com 18 anos ganhou o prémio Nacional de Fotografia Pierre Verger, com uma foto intitulada, “Reflexos”.
Com 18 anos foi admitida no Instituto Superior de Artes Visuais e Design, no curso de Fotografia e Cultura Visual e foi morar para Lisboa.
Na entrevista de admissão disse que tinha escolhido aquele curso porque para si fotografar era a maneira de mostrar aos outros o mundo pelos seus próprios olhos.
A sua casa em Lisboa tinha várias janelas, cheia de luz natural onde o local menos iluminado era a câmara escura da sala de revelação. Para Íris a sala de revelação era o seu ateliê e a película a sua tela onde ela colocava da melhor maneira a imagem que o seu olhar tinha captado.
Íris oscilava entre a Primavera e o Verão da sua vida, não podia desejar mais nada…erafeliz…
Foi por volta dos 20 anos que os contornos dos sonhos de Alicia Íris mais perderam definição e a paleta de cores se reduziu. Nessa altura, apresentaram-lhe um termo que a passou a catalogar: amblíope, aquela que sofre de baixa visão.
Como um peixe que perde a memória em poucos segundos Íris descobrira que também tinha algo a perder, o mais valioso para si… a visão… O mundo acabara para Íris, perderia a visão perderia tudo, sem ter sequer uma lesão aparente nos olhos, sem puder lutar, sem nada puder fazer contra isso…
Desistir, foi a primeira palavra que lhe veio à mente, queria morrer, não fazia sentido mais nada para si, ficaria cega teria que aprender a viver na escuridão…
Apesar de todo o desespero o seu médico explicou-lhe que o mundo não acabava ali e que havia muito que ela podia ainda fazer, indicou-lhe um centro, o Centro de Nossa Senhora dos Anjos,neste centro ensina-se quem vai cegar ou já cegou.
Mas Íris nem queria saber, bateu a porta do consultório, pegou na sua máquina e foi fotografar, queria captar o máximo de imagens, o máximo de sensações, para que quando ficasse cega os outros pudessem ver através dos seus olhos.
Hoje Íris tem 24 anos e restam-lhe pouco mais do que o amarelo, o verde, o branco sobre o preto, desde que muito contrastados, sombras e formas turvas: mantém oito por cento de visão, há um ano via 14 por cento. Sofre de miopia com atrofia da retina.
Nos sonhos, Íris ainda luta contra a perda de visão, tentando controlá-los e impondo o mundo tal qual ele era, quando via tudo, tenta ver melhor nos sonhos mas não consegue. Sonha o que vê. Os sonhos adaptam-se à realidade. Continua a fotografar, e a coleccionar o máximo de imagens na sua mente e na película.
O que nunca fez Íris desistir foi a certeza que todos vamos cegar, mais tarde ou mais cedo as trevas chegam, seja por uma patologia ou pela morte e todos vivemos na angústia de guardar memórias e imagens para levarmos connosco quando cegarmos.
Quatro meses depois do pesadelo ter chegado Íris foi ao Centro da Nossa Senhora dos Anjos, para aprender a ser cega, se for preciso.
Houve um tempo em que mesmo a dormir todas as imagens eram nítidas, estavam pintadas de dezenas de tonalidades, eram como fotografias e as formas tinham linhas bem definidas que se foram esbatendo, devagar, até ficarem difusas…
Num dia temos tudo, no outro não temos nada… Quando entrou naquele consultório Íris tinha o mundo todo em sua mão quando saiu o sol brilhava mas tinha morrido o seu sonho… íris nunca desistiu e não deixava ninguém desistir, naquele centro em que agora lutava contra a perda de visão tinha uma palavra de conforto para todos aqueles que chegavam desolados como ela, Íris fartava-se de dizer :
“Esta é a tua vida!
Faz o que amas e fá-lo muitas vezes.
Se não gostas de algo muda-o.
Se não gostas do teu emprego desiste!
Se não tens tempo suficiente pára de ver tv.
Se andas à procura do amor da tua vida pára!...
Ele estará a tua espera quando tu começares a fazer as coisas que amas!
Pára de analisar tudo, a vida é simples!
Todas as emoções são lindas...
Quando comes aprecia cada dentada.
A vida é simples, abre a tua mente, braços e coração a novas coisas e às pessoas que estão unidas nas suas diferenças, pergunta a alguém a sua paixão e divide a tua experiência com ela!
Viaja muito.
Perde-te. Perderes-te vai ajudar-te a encontrar-te!
Algumas oportunidades só aparecem uma vez, apanha-as!
A vida são as pessoas que conheces e o que criarias com elas… então vai e começa a criar!
A vida é curta.
Vive o teu sonho e usa a tua paixão!”
E a partir daí foi assim que Íris viveu, vivia o seu sonho e usava a sua paixão… Por milagre ou não o avanço da sua cegueira estagnou, via poucas cores, via contornos, via vultos… Mas continuava a ver, e mais que isso tinha crescido e tinha aprendido a dar valor a cada pequena coisa… Como um simples raio de Sol…
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