domingo, 8 de julho de 2012

Helena, em busca da felicidade...


O meu nome é Helena Santos e tenho 24 anos. Helena significa luz e quem escolheu o meu nome foi o meu pai que, desde que soube que a minha mãe estava grávida, sempre disse que eu ia ser o brilho da vida dele.
O meu pai chamava-se Alexandre Santos e teria agora 48 anos e a minha mãe chama-se Clara Santos e tem 46 anos. O meu pai trabalhava como empreiteiro e a minha mãe era secretária de um empresário.
Sempre fui muito ligada ao meu pai. Ele era diferente. A minha mãe sempre foi muito mais rígida e severa. Ainda hoje o é. Acho que está cada vez pior, para ser sincera. O meu pai, pelo contrário, sempre foi o mais brincalhão, o mais divertido. Quando eu era pequena, era sempre ele quem me encobria as asneiras e as parvoíces. Quando era adolescente era ele quem insistia para eu sair e estar com os meus amigos. Pela minha mãe eu nem saia de casa, mas ele convencia-a sempre.

Há dois anos atrás tudo teve que mudar. Tinha acabado o curso de engenharia bioquímica há pouco tempo e lembro-me que ia com ele no carro. Acho que íamos buscar a minha mãe ao emprego e não estávamos longe de casa. Não me lembro de como aquilo aconteceu, só me lembro de num momento estar a rir-me com o meu pai, já nem sei sobre o quê, e noutro momento já estarem dois bombeiros a tentar tirar-me do carro e a dizerem algo acerca de eu estar presa e de que ia ser complicado. Depois acho que perdi os sentidos.
Quando acordei novamente já estava a caminho do hospital. Já devia ser tarde pois estava escuro na rua. Desde o acidente até aquela hora deviam ter passado umas cinco horas. Quando perguntei pelo meu pai, disseram-me para não pensar nisso e que ele estava noutra ambulância. Eu tinha uma mascara de oxigénio na cara e sentia dores imensas na perna direita. Desconfiei que fosse o local onde eu tinha ficado presa. Olhei à minha volta e tentei concentrar-me em algo que me chamasse à atenção. Estava comigo uma enfermeira que me disse que me ia colocar soro por ordem do médico pois tinha perdido muito sangue. Ficou a tentar falar comigo, mas eu estava cansada e preocupada. Não conseguia responder muito bem e apenas acenava com a cabeça respostas de sim e não.
Quando cheguei ao hospital, o médico que me examinou disse-me que ia ter de ser operada. Nesta altura mal eu sabia que aquela não ia ser a única cirurgia que iria fazer.

Fui operada de urgência e quando acordei já a minha mãe estava lá ao pé. Tinha os olhos vermelhos e inchados. Neste aspecto somos muito parecidas. Ambas temos olhos castanhos-escuros e se chorarmos ficamos logo com eles vermelhos. Também os nossos cabelos são parecidos. Ambos castanhos e ondulados, ainda que o dela já esteja com alguns cabelos brancos que ela pinta para esconder. O meu também é mais comprido, pelo meio das costas.
Quando viu que já tinha acordado começou imediatamente a falar, a fazer todo o tipo de perguntas, perguntas às quais eu não conseguia responder, não me conseguia lembrar.
Quando perguntei pelo meu pai, não esperava obter aquela resposta. A minha mãe recomeça a chorar e diz-me o que eu não queria ouvir. O meu pai, aquele que sempre me apoiou, com quem eu brincava, o meu confidente, estava morto, tinha tido morte imediata quando batemos naquela árvore. Nesse momento lembrei-me de quando íamos no carro, algo se atravessar à frente do carro e nós irmos contra uma árvore. Quando soube desta notícia entrei em negação, não conseguia acreditar que o meu pai estava morto e que nunca mais o ia ver, nem falar com ele, nem rir-me com ele. É disso que sinto mais falta. Das brincadeiras, do riso.

Ao longo dos dias fui-me apercebendo cada vez mais da realidade. Fui encarando e aceitando a verdade. Quando sai do hospital, comecei a ser acompanhada por uma Psicóloga que me tem ajudado muito ao longo destes dois anos. Também já fui operada mais 3 vezes. Quando fiquei presa, para além de ter partido a tíbia, ainda perdi grande parte do músculo e por isso tenho andado a fazer tratamentos e fisioterapia. Actualmente vivo em Leião que fica em Paço d’Arcos mas eu vivia em Évora.
Mudamo-nos para cá para estar mais perto do hospital onde sou acompanhada que fica em Alcoitão.
Com isto, tive de deixar os meus amigos, estudei em Évora mas aqui não conheço ninguém e desde o acidente que a minha mãe se tornou ainda mais possessiva em relação a mim, nem me deixa ir ao jardim perto de casa.
Para me proteger acaba por me magoar ainda mais, é que como se já não bastasse ter perdido o meu pai e ter mudado de casa, ela ainda me trata como se fosse uma criança novamente.
Quando consigo sair sem ela dar por isso, vou até ao tal jardim. Gosto de estar junto ao lago mas tento afastar-me de locais com muitas árvores por causa das memórias que me trazem. Também gosto de ver as crianças a brincarem no parque infantil. Lembram-me a minha infância.
Mas principalmente gosto de conversar com as pessoas. Sou filha única e como cá não conheço praticamente ninguém nunca posso desabafar. Mas às vezes lá encontro alguém simpático que me ouve.
Nestas escapadinhas tento sempre pôr-me o mais bonita possível. O meu pai gostava imenso de me ver bem vestida e maquilhada, como já disse, ele era diferente.
Hoje em dia ainda não consegui superar a morte do meu pai, continuo à procura da felicidade que sentia com ele perto de mim e por isso costumo vestir roupa preta mas nunca me esqueço daqueles tons claros que me dão o brilho que ele tanto gostava. Também ando sempre com um conjunto que ele me deu, um colar, uma pulseira e um anel de prata. Foi a prenda que recebi depois de acabar o curso.
Ainda não me caracterizei mas tenho perto de 1,70m e peso cerca de 60Kg. A minha pele não é muito branca nem é morena, o meu cabelo é castanho, bem como os meus olhos, que, como já disse, são como os da minha mãe.
Quando me vêem na rua, ninguém diz o que se passou, tento sempre parecer bem, como se usasse uma mascara, mas quando estou sozinha tenho sempre um ar triste.

“Quem me dera voltar a sorrir como uma criança…”

Algo que eu e o meu pai partilhávamos era o gosto pela música e com ele havia uma especial. É de uma banda de rock, Os Metallica e a música chama-se Nothing Else Matters. Há uma parte dessa música muito importante para mim e que quando me sinto em baixo costumo cantarolar.

“So Close, no matter how far
Could be much more from the heart
Forever trust in who we are
And nothing else matters”

Esta música faz-me sempre sentir bem e ajuda-me a aumentar a minha auto-estima.

Há uns tempos disseram-me algo que me fez pensar. Disseram-me que eu era como um lobo, solitária mas amigável com alguns, olhar triste e vazio mas com um certo brilho de força e atitude. Em parte, acho que até têm alguma razão…

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