
O HERÓI
Gozando do privilégio de poder criar qualquer personagem que eu quisesse e depois do trabalho feito em aula e das experiências partilhadas por todos achei que o meu personagem queria ser um herói. Ele não se tornou imediatamente, ele transformou-se num herói. Ele sempre teve este potencial porque o herói detinha diversos poderes incomuns ao ser humano, nomeadamente o teletransporte, a clarividência e a capacidade de viajar para o futuro. Ele apenas precisava de encontrar a força, vontade e a segurança para se assumir. No exercício de visualização do animal do meu personagem, visualizei um esquilo. Apesar de não o associar imediatamente ao meu personagem lembrei-me que na antiguidade, no tempo dos clãs e das cavernas, os líderes espirituais descobriam o totem de cada novo ser, logo após o seu nascimento. O esquilo como totem simboliza a preparação, o planeamento, a adaptabilidade e a conservação. O esquilo ensina-nos a planear e a preparar o futuro. Apela para a não utilização de todas as nossas reservas energéticas e para a importância de poupar para utilizar no momento certo. Simboliza a libertação de objectos desnecessários e de crenças negativas que minam a confiança no amor e na abundância. A simbologia do esquilo, coadunava-se com a fase do processo de construção que o meu personagem se encontrava porque ele pretendia ser um herói e precisava, ainda, de preparar e planear o seu futuro, de adaptar-se aos seus poderes e de saber exactamente o momento certo para agir.
Para a construção da história de vida do personagem contribuíram os exercícios de visualização que nos permitiram imaginar momentos futuros e passados da vida do nosso personagem. Em relação ao passado recriei um momento crítico que condicionou a natureza das suas relações com os outros ao longo da sua adolescência e juventude. Aos 12 anos, numa idade em que ainda era criança mas suficientemente crescido para compreender que existem situações limites, o herói perde a mãe depois de rápido processo degenerativo resultante de um cancro. Perdera a mãe, aquela figura feminina que até então mantinha a coesão do núcleo familiar, que ao mesmo tempo brincava e impunha respeito, que procurava tornar o seu filho responsável, sensível e cheio de complacência para que utilizasse os seus poderes para o bem maior e não apenas como uma forma fácil de obter tudo o que quisesse para benefício próprio. A mãe era a grande responsável pela sua educação e o herói sabia disso. Por vezes ele saturava-se por ter de assumir uma responsabilidade tão grande e queria desligar-se de tudo para se sentir mais livre. Com a morte da mãe ele sentiu muito medo. Medo de não conseguir concluir sozinho o caminho que a mãe o ajudara a percorrer, medo de si próprio, dos poderes que detinha, medo de não encontrar ninguém em que pudesse confiar e que o amasse tanto como a mãe o tinha amado. Perdera uma referência de equilíbrio, de consciência, de amor e e maturidade que aos 12 anos não tinha.
Não tinha uma ligação muito estreita com o pai. Este era uma pessoa viajada e embrenhada nos seus projectos científicos porque ambicionava ganhar o Prémio Nobel. O que o herói não sabia era que o pai constituía um suporte muito grande à mãe, que frequentemente questionava-se se estaria a educar bem o filho. O pai e a mãe mantinham uma relação muito estável, de apoio mútuo, de confiança, amizade e amor que o herói, aos 12 anos, não compreendia, via apenas um pai ausente. Com a morte da mulher o pai adiou o seu projecto de ganhar o Prémio Nobel e deixou de viajar com tanta frequência. Apesar da relação saudável com a mulher nunca conseguiu lidar com os poderes do filho razão pela qual nunca conseguira estabelecer uma relação saudável com ele.
O herói, com a perda da mãe, devido ao medo de se perder nos seus imensos poderes e à falta de segurança e confiança em si próprio recusou-se a fazer uso dos seus poderes durante muitos anos mantendo-os num espaço escondido, dentro de si, com o intuito de os esquecer. O pai nunca fora bem sucedido nas suas relações interpessoais, preferia antes o conforto de um laboratório do que lidar com dinâmicas interpessoais. A sua única relação bem sucedida fora com a sua mulher que, agora, falhara com a morte. Inicialmente, a morte da mãe, facilitou a relação com o pai mas nunca inigualável à sua relação com a mãe. A meio da adolescência, o herói, cansado de estar sozinho tentou aproximar-se do pai. Para tal, tentou perceber quais eram as maiores necessidades e desejos do pai para poder concretizá-los e assim conseguir tocar nos seus sentimentos. Logo compreendeu que o pai também ansiava por uma pessoa em quem pudesse confiar e expressar os seus sentimentos sem restrições. De maneira que, durante as refeições e quando os momentos se coadunavam, o herói incentivava o pai a expressar os seus sentimentos que estavam frequentemente relacionados com a perda da mulher. Depois começou a ajudar o pai nas responsabilidades do lar: pagava as contas, arrumava a casa, excepto o escritório do pai – que era o seu refúgio – e começou a reutilizar os seus poderes para benefício do pai. Rapidamente o pai apercebeu-se do esforço do filho e culpabilizando-se por não ter sido ele a tomar a iniciativa começou a retribuir em quantidade e qualidade maior tudo o que o filho lhe dava. A relação entre pai e filho tornou-se uma relação de amizade, de complementaridade, cada um apenas fazia emergir o melhor do outro. O pai começou a incentivá-lo a reutilizar os seus poderes para o bem maior de todos como a mãe o começara a educar. Quando o herói ficava com medo o pai prometia-lhe que nunca o ia deixar percorrer caminhos mais corruptos, para benefício das pessoas que não precisavam.
Foi no seio desta relação fecunda, cheia de cumplicidade que o herói tornou-se um homem responsável, sensível ao sofrimento e às necessidades dos outros. Construiu-se como pessoa e como herói humilde, calculando todas as consequências dos seus actos.
À medida que ia crescendo enredava-se em missões perigosas na luta contra o crime organizado e ajudava no alívio do sofrimento das pessoas curando-as dos seus mais diversos problemas e tornando-as melhores pessoas, mais bondosas, mais amorosas e com estilos de vida mais saudáveis. Tornou-se um exemplo e uma referência para toda a humanidade.
Aos 25 anos apaixonou-se pela Sonhar, uma famosa bailarina, muito concentrada nos seus treinos, que ambicionava ganhar muitas medalhas.
Num momento do futuro da vida do herói imaginei que ele encontrara outras pessoas com poderes. Todos se complementavam uns aos outros e quando todas as organizações militares da Terra falhavam, organizavam missões ultra-secretas para combater os mais difíceis e competentes criminosos. Construíram uma base de comandos de informações num recôndito e secreto lugar da Terra que, apesar de não precisarem, despistava o crime organizado que lutava para exterminar os heróis. Mas nunca conseguiriam!
oh herói, tanto nos escondeste tu dentro da tua capa mágica!
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